terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Um descanso na loucura, ou uma confissão, mesmo

Dizem as más línguas que o amor acaba. Numa terça-feira à tarde. No meio da rua. Num sábado de sol. Dizem que ele acaba. Como fiel protestante dessa lógica, eu digo que ele não termina. Calma, a tia explica.
Domingo à noite e aquele cheiro de saudade ensurdecedor, que só não vê quem nunca sentiu. Estava seguindo o script do ócio casual, lendo um livro amigo, quando de repente eu as percebi. Lembranças aleatórias invadindo o ambiente como um enxame de abelhas, zunindo ao meu redor.
Como um natural fio de Ariadne, elas sempre me indicam a saída do labirinto. Como naturais abelhas, elas são atraídas pela luz. E estavam certas, havia mesmo um clarão doce, aqui, nessa saudade.
Tantas risadas me invadiam de uma só vez. Aquelas de quando eu quase perdi meu voo. E aquela de quando ele quebrou o dente comendo barrinha de cereal congelada (francamente, que ideia...). Aquela lá, em frente, à igreja, no ponto de ônibus do Nazaré. E aqueloutra... Perdi as contas.
As conversas, desde os primórdios do vintage face a face, passando pela era do MSN e dos telefonemas, até chegar aos tempos de Whatsapp. Conversas sérias, outras nem tanto, quase nada. Nada sérias. Quase todas divertidas, levemente desvairadas, sempre aconchegantes. Conversas mudas, porque o silêncio diz tanto, que quase grita.
E por falar em silêncio, por onde anda a tua voz? Saudade.
Os olhares, que verdade seja dita, são uma língua à parte. Pensei em traduzi-los, decodifica-los, aqui, para o leitor. Mas não há registros de tradução dos mesmos, por isso, acalmo meu leitor citando Caeiro ‘’[...] Porque pensar é não compreender/ [...] (Pensar é estar doente dos olhos)’’. Ora, viva o leitor a própria língua dos olhares, para aprender o seu silêncio, que como disse Octavio Paz, ‘’é o reino das revelações’’. Por isso eu guardo os meus, numa caixinha de joias, na cabeceira da cama.
Quero crer que só acredita no fim de um amor, quem ainda não viveu um. Mas vá lá, cada um com suas crenças, e eis a minha: amor é ( r ) evolução! Transforma, aquece, envivece. Amar é acender uma luz no mundo, e então, enxergar.
Para os céticos, racionalizo da seguinte forma: tal como o corpo não diminui, a alma não encolhe, porque não desaprende quem, de fato, aprendeu. Quem viu, não desenxerga.
Quem viu, viu mesmo, viveu o dito cujo, não apaga a luz que acendeu. Embora relacionamentos de toda espécie terminem, a cada esquina, relações estão em outro plano, além do alcance da nossa tesoura emocional. Imagino que as relações sejam laços, fios magnéticos que nos ligam sem prazo de validade ou área de restrição. É por isso que, hoje, nesse laço, eu só mando flores. Eu sei que chega ao destinatário, numa segunda-feira qualquer, mesmo que ele não saiba quem é o remetente. Porque aqui só tem jardim, parafraseio Rosa pra afirmar que ‘’Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. ’’.
Olhei ao redor e percebi que as abelhas viraram borboletas, pra contemplar as minhas flores, voavam como quem dança em plenitude, faz graça com o ar. E depois de tanto tempo em silêncio, nesse diálogo mudo, eu o mandei bem querer, aqui, nas curvas dessa escrita. Abraço quentinho. Uma versão atualizada da caixa de Pandora, cujo fundo guarda esperança, sim, de que a vida siga e novos sonhos se concretizem, de que toda histeria de fim, vire calmaria de recomeço, energia boa para novos ciclos.
Não sei dizer por onde anda meu remetente, mas quer saber de uma coisa? Tomara que tenha conseguido aquele emprego almejado, que não coma mais barrinha de cereal congelada, que case e compre uma bicicleta, ou se mude pro Japão e adote dois cães. Que seja muito feliz! Porque a luz que acendeu, quando o conheci, não se apagou, (para aqueles que ainda estão fazendo os cálculos) até se multiplicou em amor próprio, amor ao próximo e amor pelo mundão.
Nem venha o leitor impertinente argumentar com ‘’ah, mas paixão acaba sim’’, porque paixão é que nem gripe, uma hora a gente se cura. E eu ‘’tô falando de amor e não da sua doença, tô falando de amor e não do que você pensa... ’’. Quanto a mim, eu não sei o que vem pela frente, mas tô pagando pra ver, porque eu sei que vale a pena, depois de tudo isso, a minha alma não é pequena, mais; (e obrigada por essa, Fernando Pessoa).
Ufa. Suspiro, enfim.
Silêncio.
Falar foi tão bom, que eu estou até me sentindo mais leve, vou ali me juntar às borboletas e dançar. Serena.


Bruna Almeida

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Acredito que o pôr do sol é uma das coisas mais especiais da vida. Quando os barulhos e a temperatura do dia, enfim, começam a se harmonizar, o sol brilha mais do que em qualquer outro momento, e então, seus raios nos banham com a imensa paz do mundo, dentro da nossa particularidade. 
Eu encaro o sol, contemplo sua beleza deslumbrante, até que, em poucos segundos, ele ofusca minha vista e tudo vira um clarão.
E nessa brincadeira de olhar e desviar, como uma criança curiosa e admirada, toda vez que ele me cega é pra me fazer enxergar além.


Bruna Almeida